2007/06/03

Os três gatinhos comunistas

Numa escola primária da "pátria do socialismo", a professora pediu aos meninos que escrevessem uma redacção a louvar o comunismo. Um dos meninos escreveu:"A minha gata teve três gatinhos e são todos bons comunistas.". A professora gostou muito da redacção e elogiou o menino.

No entanto, no dia seguinte, o menino pediu para corrigir a redacção: "A minha gata teve três gatinhos e dois deles são bons comunistas". Preocupada, a professora quis saber o que tinha acontecido. O menino explicou então que "o outro já tinha aberto os olhos".


No início de 1988 fui morar para o mesmo prédio do Raimundo Narciso. Longe de mim suspeitar que aquele vizinho de trato afável e simpático conversador era um membro "crítico" do Comité Central do partido de que me desligara uns anos atrás. Só dei pela coisa aquando do caso do hotel Roma e posterior expulsão do RN do PCP. Mas, no curto mês e pouco que se passou até eu de novo mudar de casa, não tive oportunidade de com ele ter uma conversa sobre o assunto.

Lancei-me por isso ao livro do RN, com alguma curiosidade, embora sem grandes expectativas de descobrir espantosas novidades. A minha mais ou menos breve passagem pelo PC e respectiva Jota, munia-me de um conjunto de saberes que me deixariam, em princípio, imune a grande surpresas sobre o que se poderia ter passado no interior do CC ou no XII Congresso. Até porque o que sobre este se relata já anteriormente eu vira acontecer, mais coisa, menos coisa, no primeiro congreso da Jota.

Lido o livro sem supresas, como esperado, ficam-me no entanto algumas perplexidades. A maior das quais, provavelmente aquela que eu mais esperaria/goataria de ver explicada: como foi possível a este conjunto de pessoas, sem dúvida de uma inteligência claramente superior à média, ter levado tanto tempo a tomar consciência da essência verdadeira do "socialismo real"? Como foi possível ignorar tanto tempo a Hungria de 56, a Checoslováquis de 68 ou mesmo a Polónia do início dos anos 80? Diga-se o que se disser, e mais do que cansaço ou desalento, foi a queda do bloco socialista que mais contribuiu para a quebra acentuada de influência do PCP e para o descrédito junto de grandes sectores da população.

Fica-me por um lado, a impressão de que, tivesse Cunhal tido o alento ou vontade de dar mais um dos seus magistrais e maquiavélicos golpes de rins, muitos deles teriam seguido a nova onda. Eles e, por acrescento de razão, a maioria seguidista do CC e do partido. As intervenções no XII Congresso reflectem ainda um pensamento centrado no partido e na sua defesa como vanguarda da classe operária e da revolução socialista. Donde se poderá inferir que a divergência seria, na altura, não de fins mas sobretudo de métodos. E especialmente quando se estava do lado que "sofre" na pele os métodos.

Fica, por outro lado, a impressão que muitos destes dessidentes já o eram, estando, como os militares que RN refere no livro, à espera de um pretexto para cortar os laços com o partido. E nesse aspecto, tal como a intervenção que o agora ministro Mário Lino fez na apresentação da obra, o livro de RN aparece como uma auto-justificação das opções feitas e um serenar de consciências.

Fica, ainda, por explicar a aproximação ao PS.O livro limita-se a traçar uma breve cronologia da gradual convergência de acção com o Partido Socialista, sem nos esclarecer quando, onde e como se processa a convergência ideológica. Isto se, de facto, é possível existir convergência ideológica com um partido "tão liberal, tão permissivo que no seu âmbito cabem todas as opiniões, todas as posições" e onde existe o claro risco de "perda de referências identitárias".

2007/06/01

40 years ago today...

... era editado "a mãe de todos os albuns". Se "Por Este Rio Acima" marcou uma geração de portugueses que dizer de "Sgt. Pepper's"?

Se não existisse tinha que ser inventado!